quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Maioria dos evangélicos é favorável à discussão política nas igrejas, diz pesquisa

A polêmica que envolve a mistura de religião e política veio à tona mais uma vez, através de uma pesquisa revelando que a maioria dos evangélicos aprovam a discussão de temas políticos nas igrejas. Católicos e judeus formam a maioria contrária


Motivo de muito debate entre cristãos de todo mundo, afinal, política e religião se misturam? Foi isso o que uma pesquisa realizada em 10 de fevereiro nos Estados Unidos quis saber. O estudo, ao que parece, foi motivado após a decisão do Presidente americano Donald Trump anunciar que pretende revogar a lei conhecida como Emenda Johnson. A pesquisa descobriu que, de fato, a maioria dos evangélicos é favorável à discussão política nas igrejas.
A informação publicada no The Christian Post não divulga a metodologia da pesquisa, mas afirma que 47% dos evangélicos apoiam o envolvimento de grupos religiosos com a politica, contra 34% desfavoráveis. Por outro lado, 54% dos católicos e 69% dos judeus desaprovam o envolvimento de política e religião.

Discussão política nas igrejas e a liberdade religiosa

Autora do livro “Distorção: Como a nova esquerda cristã está torcendo o Evangelho e danificando a fé”, Chelsen Vicari, diretora do programa evangélico do Instituto sobre Religião e Democracia, com sede em Washington, diz que se preocupa com uma possível “politização do cristianismo americano”:
“A Igreja é chamada a proclamar o Evangelho, auxiliar os necessitados e manifestar-se como guia para a sociedade em questões de moralidade, justiça e misericórdia (…) A história já nos ensinou que trocar o Evangelho por zelo político contribuiu para o declínio dos protestantes no século passado, o que deveria ser um aviso aos evangélicos”, disse ela em resposta ao Christian Post.
Para o autor David T. Koyzis, no entanto, o envolvimento de cristãos na política não é, necessariamente, um mal em si. Na obra “Visões e Ilusões Políticas“, o verdadeiro problema está na “idolatria ideológica”. Ou seja; para o autor, é quando uma concepção política se torna mais importante do que às Verdades bíblicas do evangelho. Quando um cristão substitui a leitura bíblica acerca do mundo pela interpretação política da realidade, e não segundo as lentes da bíblia.
Para o grupo que defende a liberdade religiosa, chamado “Aliança Defendendo a Liberdade” (tradução livre), a intenção não é politizar o cristianismo, mas sim que líderes religiosos, como pastores, tenham a liberdade de abordar temas políticos dentro das igrejas que envolvem valores cristãos, como educação, família, casamento gay, aborto, legalização das drogas, etc.
Isso, porque, a legislação americana atual, com a Emenda Johnson, proíbe que tais líderes tratem esses assuntos em suas igrejas, sob o risco de que a denominação perca o status de comunidade religiosa. Os evangélicos, no entanto, querem saber a opinião dos seus líderes e defendem a liberdade para que eles possam falar abertamente nos púlpitos os temas do seu interesse.
Tratamos aqui, por exemplo, do momento em que Trump disse que “a igreja precisa de mais poder“, referindo-se exatamente a revogação da Emenda Johnson. Na ocasião, ele disse: “Eu quero que os pastores possam falar. Eles têm medo de falar agora, tem medo de se envolver na política e assim perder a isenção de impostos, mas eu quero que os pastores falem”.
No Brasil, a lei 13.615/2015 proíbe a propaganda eleitoral em local de culto religioso, assim como em qualquer espaço considerado de uso comum, mas caso ocorra, não é a igreja que sofre punições, e sim o candidato político.
Nos EUA, no entanto, com intensos debates e casos de perseguição religiosa, onde pastores já foram intimados a prestar esclarecimentos sobre sermões acusados de “discurso de ódio”, a intenção da maioria não é, meramente, lançar candidatos, mas sim recuperar a plena liberdade de poder discutir nas igrejas temas que transitam na política, mas que também dizem respeito a confissão de fé.
Ao que parece, portanto, os evangélicos norte-americanos não querem apenas “dar a Cesar o que é de Cesar”, mas garantir a liberdade em poder “dar à Deus o que é de Deus”.

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