Ex-detento e atual pastor evangélico Jacy de Oliveira
Jacy Lima de Oliveira diz lembrar todos os detalhes daquele 2 de outubro de 1992. As imagens, o cheiro, e, principalmente, os gritos. “Foi um inferno na Terra, estou vivo por um milagre”, conta o ex-presidiário da antiga Casa de Detenção e sobrevivente do massacre que deixou 111 mortos, quando há 20 anos a polícia de São Paulo invadiu o pavilhão 9 da penitenciária após um início de rebelião.
“Eu sobrevivi, eu vi a história, eu pisei em sangue que dava quase na canela, e isso não é exagero, não! Ouvi gritos que até hoje ecoam na minha mente”, disse Jacy ao G1, em uma entrevista feita no Parque da Juventude, construído após a implosão dos pavilhões do Carandiru e inaugurado em 2003.
“Quando venho aqui eu me sinto livre, feliz de estar vivo. E me sinto também muito triste por saber que aqui morreu muita gente, e que os crimes estão impunes. Na verdade isso aqui é um tapete em cima de um grande montão de sujeira”.
O massacre ficou conhecido internacionalmente, e até agora nenhum réu foi preso. Todos respondem ao processo em liberdade – e nenhum ficou ferido na ação. Alguns se aposentaram e outros morreram antes mesmo de serem julgados.
Vida no crime
Jacy foi para o maior presídio da América Latina aos 27 anos, suspeito de um roubo a uma mansão no Morumbi – que alega não ter participado. “Eu vivia uma vida de criminalidade, muita droga, era um desespero, mesmo. Mas quando eu estava no auge do crime e da droga, achei por bem procurar um trabalho”.
Segundo ele, um irmão achou um bico de auxiliar de pedreiro e ele aceitou. Quando chegou lá, viu que um outro ajudante era da mesma quadrilha que ele participava. Segundo Jacy, que na época era conhecido como “mineirinho” pela origem do estado vizinho, o companheiro de gangue organizou o assalto, mas sem chamá-lo. “Fiquei 11 meses e quatro dias preso. Nesse tempo fui seis vezes ao Fórum. Nunca provaram nada contra mim nesse caso”.
Jacy entrou com uma ação contra o Estado na Justiça por ter ficado preso sem condenação e, segundo ele, ganhou em primeira e segunda instâncias, e agora aguarda a liberação da indenização.
O atual pastor evangélico, e pai de dez filhos, publica neste mês um livro com seu relato do massacre. O título será exatamente esse: “Eu sobrevivi para testemunhar o massacre do Carandiru”.