segunda-feira, 11 de julho de 2016

Igreja de BH irá realizar casamento religioso entre dois homens - Vejam

Pastor e diácono se unirão em matrimônio neste sábado pela Igreja Cristã Contemporânea de Belo Horizonte.

Casal

Casal

PUBLICADO EM 08/07/16 - 19h04

O casamento será realizado por um pastor da Igreja Cristã Contemporânea, localizada no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte, a única da cidade. 
"Quando me descobri gay na adolescência, acabei me afastando da igreja por muito tempo, mas sempre ficou aquele vazio. Sou de uma família tradicional evangélica. Nesta época, nem a igreja nos aceitava e nem a legislação. Ao encontrar a Igreja Contemporânea Cristã, no Rio, me encontrei como pessoa e como cristão. Casar na igreja sempre foi um sonho meu mas eu sempre me senti privado disso. Por isso, o dia de amanhã (9) será de alegria e de conquista", conta Castro, que conheceu o marido na igreja. Eles se casaram no civil nesta sexta-feira (8).
Após se encantarem com a possibilidade de estar em um templo religioso propagando a sua crença sem ser julgado ou excluído, o casal conseguiu trazer a igreja contemporânea para Belo Horizonte há cerca de sete anos. A novidade conseguiu atrair novos e antigos fiéis que haviam desistido de suas crenças por não se sentirem aceitos. Atualmente, a Igreja Cristã Contemporânea em Belo Horizonte conta com a primeira diaconisa transexual da cidade.
"Ela era de outra igreja que não a aceitava como era. Foi aí que conheceu a nossa, passou a frequentar e acabou sendo eleita diaconisa", conta Castro. Mas por ser uma vertente da igreja evangélica, a Cristã Contemporânea acaba sendo alvo de inúmeros protestos. Segundo Castro, é recorrente os atos contrários à sua existência logo em sua entrada, na rua Tupis. "A maioria das igrejas discrimina. Muitas, inclusive, representadas por seus membros, vão à porta da nossa igreja frequentemente protestar contra".
Mas o pastor ainda explica que defender o amor em todas as suas formas não torna a Igreja Cristã Contemporânea menos evangélica do que outras. "A igreja tem todo o formato da igreja evangélica, com exceção de não fazer distinção dos fiéis por orientação sexual", explica. Castro é de origem presbiteriana mas nunca havia sido aceito como era nas igrejas que frequentava antes de conhecer a Igreja Cristã Contemporânea.
Demanda por mudança
Quando fundou a primeira Igreja Cristã Contemporânea do país em 2006, no Rio de Janeiro, o pastor Marcos Gladstone, 40, não imaginava que teria que fundar outros templos para abrigar o número exponencialmente crescente de fiéis. Hoje, com a igreja de Belo Horizonte e com a que está prestes a ser aberta em Contagem, na região metropolitana, a Contemporânea já conta com 14 templos espalhados pelo Brasil.
"Foi ali na Lapa, zona boêmia carioca, que fundamos a igreja. A escolha do lugar também foi intencional, já que a região tem todas as tribos e poderia ser o lugar que nos aceitaria melhor. Em um primeiro momento a gente até pensou que pudesse sofrer discriminação por conta disso, mas a surpresa foi que a igreja foi muito bem aceita. A cada culto apareciam mais fiéis e e o espaço foi ficando pequeno, por isso, fomos abrindo outros templos para receber todos eles", explica.
A motivação para fundar a igreja foi trazer o gay para dentro dela, sem julgamentos, ao invés dele ter que ficar na janela. "A gente queria um lugar que pudesse acolher todo mundo sem nenhum tipo de restrição, diferente de outras igrejas em que os gays precisavam ver a missa da janela e não podiam servir a Deus do jeito que são", conta.
Mas não basta querer casar para ter sua união abençoada por Deus. Gladstone ainda explica que segue um critério para realizar os casamentos. "É preciso estar junto com a pessoa que se quer casar por pelo menos um ano antes de ser realizada a cerimônia religiosa. A gente entende que o casamento é pra vida toda".
Ele e o marido, também pastor Fábio Canuto, de 36 anos, se casaram em uma cerimônia religiosa há 10 anos, sendo este o primeiro casamento religioso entre gays no Brasil. Na verdade, os dois se 'casaram' cerca de três vezes antes disso, já que o relacionamento teve que acompanhar os passos na evolução da lei brasileira.
O casal tem três filhos adotados, um de 13 anos, um de 10 e a caçula, de 8 meses. Canuto, inclusive, é quem realizará o casamento de Daniel e Guilherme neste sábado no templo de Belo Horizonte. Antes de ser pastor na Contemporânea, ele foi pastor da Igreja Universal por 10 anos. 
Amor em tempos de cólera
O pastor Fábio Canuto vê a celebração religiosa do matrimônio de Daniel e Guilherme como uma grande conquista. "Porque Minas Gerais é um Estado bem conservador, bem católico", observa. "Com isso a sociedade vai entendendo que o amor não escolhe sexo ou religião, ele simplesmente é vivido". 
Ele acredita que a orientação sexual não pode ser entendida como um 'pecado'. "Antes de tudo o objetivo é celebrar o amor e este é o nosso papel. Ali são duas pessoas, dois corações, e a bíblia não condena homossexualidade. Jesus nunca o fez e tenho certeza que se estivesse no meu lugar, faria a mesma coisa. Celebraria o amor. A bíblia não condena isso, em Eclesiastes, por exemplo, ela diz que é melhor serem dois do que um. Mas não diz que é melhor que seja um homem e uma mulher", explica.
Além disso, Canuto lembra que a Igreja tem muito mais a condenar do que a união entre duas pessoas que se amam, principalmente se passar a observar os próprios pecados. "Jesus condenava os ladrões, os corruptos, os estelionatários, não a homossexualidade. Se você olhar para os escândalos em que muitas igrejas estão envolvidas vai encontrar corrupção e estelionato, justamente o que Jesus combatia", conclui. 

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