Em 19 de agosto do ano passado, o Estado Islâmico (EI) publicou o vídeo da decapitação do jornalista americano James Foley. Foi o primeiro de uma série de clipes, todos bem produzidos e filmados, com outras bárbaras degolações. Mas, agora em 2015, além de outras cruéis execuções, como a de um piloto de caça jordaniano queimado vivo recentemente, o grupo fundamentalista islâmico passou a divulgar também gravações com meninos fazendo o papel de carrasco, e executando reféns a tiros. São o que o grupo está chamando de “os filhotes do califado”, no que parece ser a mais recente estratégia de propaganda do grupo jihadista.
A primeira imagem de uma criança envolvida em atos de extremismo foi a foto publicada pelo radical australiano Khaled Sharrouf, em 11 de agosto passado. No perfil no Twitter, Sharrouf postou a foto do próprio filho, de apenas 7 anos, segurando uma cabeça decapitada. Na legenda, escreveu: “Esse é o meu garoto”.
Já o primeiro vídeo do EI protagonizado por crianças foi divulgado em 13 de janeiro deste ano. Um menino, entre 8 e 12 anos, vestindo casaco preto e calça camuflada, executa dois homens com disparos de pistola na nuca. Os reféns supostamente confessaram ser espiões dos serviços de segurança da Rússia. No fim da gravação, o mesmo menino fala sobre as aspirações de um dia se tornar jihadista.
Em 3 de fevereiro, após a divulgação do vídeo do piloto jordaniano sendo imolado, o EI publicou um clipe mostrando um garoto assistindo uma exibição pública da execução, em Raqqa, reduto do grupo extremista na Síria. Em dado momento, o menino diz: “Se tivesse a chance, queimaria esse piloto”.
Recentemente veio a público o mais recente vídeo: um menino mata com um tiro um suposto espião israelense. Vestindo roupa militar, com uma mochila e gorro preto na cabeça, exatamente igual ao jihadista adulto que o acompanha, o carrasco mirim fica frente a frente com o refém, e dispara contra a testa dele. Em seguida, dá mais três tiros enquanto grita “Allahu Akbar” (“Alá é o maior”, em árabe).
Além dos carrascos mirins, o EI também usa crianças na linha de frente. Em outubro do ano passado, um menino, de cerca de 10 anos, teria morrido em combate pelo EI. Uma imagem da criança, arma na mão, ao lado de um homem, circulou nas redes sociais com a legenda: “Mártir, cria de Abu Bakr al-Baghdadi (autoproclamado califa do EI) e seu pai”. Ele teria sido o combatente mais novo a morrer lutando pela jihad. E, nesta terça-feira (10), foi noticiado que um menino francês, de 13 anos, se tornou o europeu mais jovem do EI a ser morto numa batalha. Nascido em Estrasburgo, Abu Bakr al-Faransi chegou à Síria com a família em agosto passado. Publicava fotos com armas e bandeiras. Em janeiro, foi morto pelo Exército sírio enquanto guardava um posto de combate perto da cidade de Homs.
Campos de treinamento infantil
Essas crianças estão sendo treinadas em locais específicos na Síria. No dia 23 de fevereiro, o EI divulgou um vídeo mostrando o Instituto Farouk para Filhotes. Cerca de 80 meninos, em uniformes camuflados, usando uma bandana preta onde se lê, em árabe “Não há Deus, senão Alá”, seguem os exercícios ministrados por um jihadista adulto. Vídeos anteriores mostram crianças aprendendo a manejar armas, técnicas de tortura, artes marciais e montar explosivos. O grupo ativista sírio “Raqqa está sendo Massacrada Silenciosamente” denunciou a existência de outros dois campos mirins: o Instituto al-Khalifa de Filhotes e o Campo Sharia Camp para Filhotes.
Segundo Abu Ibrahim Raqqawi, fundador do grupo, as pessoas são forçadas a deixar seus filhos nos campos em troca de dinheiro.
Em entrevista à CNN, um menino de 13 anos contou que seu pai foi obrigado pelo EI a enviá-lo a um desses locais de treinamento: “Por 30 dias, depois de acordar, aprendíamos o Alcorão e tínhamos aulas de armas Kalashnikovs. Também assistimos a decapitações, crucificações e apedrejamentos.
Em um extenso relatório, a ONU acusou o EI de usar crianças como soldados: as com problemas mentais seriam usadas como homens-bomba. A ONG Human Rights Watch também já denunciou o recrutamento infantil pelo grupo extremista.
Nas mídias sociais, o EI já anunciou a construção, em Raqqa, de um campo de treinamento mirim para nativos da língua inglesa. E uma escola para falantes de russo já foi inaugurada, para imigrantes chechenos.
A máquina de propaganda de recrutamento do EI é agressiva e surte efeito.
Fonte: O Globo
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